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Pesquisa revela alta concentração de microplásticos no estuário de Santos e São Vicente.

Concentrações chegam a 80 mil partículas por grama de sedimento. Dados preliminares foram apresentados na 2ª Conferência sobre Lixo Marinho e Microplásticos, em Portugal.


O plástico foi feito para durar, por isso, não faz sentido "jogar fora". Quando isso ocorre, demostra que determinada sociedade não se preparou para utilizá-lo. Para tornar mais fácil o entendimento, podemos fazer um paralelo com as pilhas e baterias, também presentes em nosso dia-a-dia e que também necessitam de normas para utilização de forma que não prejudiquem a nossa saúde e contaminem o meio ambiente. Tais normas são implementadas através de políticas públicas que originam leis, que por sua vez promovem mudanças de comportamento no cidadão através da punição. Aconteceu, por exemplo, com o cinto de segurança, com o capacete e com o cigarro em ambientes fechados. O mesmo deve ocorrer com o plástico, para que o cidadão, as empresas e o poder público comecem a adotar uma nova postura em relação a sua utilização. Tudo começa com uma logística adequada de coleta, destinação e beneficiamento que permita ao cidadão adquirir novos hábitos e com uma fiscalização punitiva em forma de multas para pessoas, comércios e empresas que descartem resíduos de maneira incorreta.


Contudo, a principal medida para combatermos a poluição por plástico é a fiscalização de áreas de preservação permanente, principalmente margens de rios e estuários vulneráveis a ocupações por submoradias, em paralelo à execução de projetos mitigatórios de recuperação ambiental, como o Sistema Ambiental de Coleta de Resíduos, que prevê a instalação de ecobarreiras e a recuperação de áreas degradadas de mangue no estuário de Santos e São Vicente.


Rios e estuários com densas populações ao longo de suas margens em países subdesenvolvidos transportam uma quantidade descomunal de plástico para os oceanos. Dez rios levam quase todo o plástico para os oceanos. Pesquisadores do Centro Helmholtz de Pesquisa Ambiental, em Leipzig, Alemanha, analisaram a concentração de plástico em 57 rios de todo o mundo. Oito deles (Yangtze, Yellow, Hai, Pearl, Amur, Mekong, Indus e Ganges) se encontram na Ásia, enquanto dois (Níger e Nilo) estão na África. O maior poluidor é o Yangtze, localizado na China, que libera 1,5 milhão de toneladas de resíduos plásticos por ano no oceano (mais do que é liberado pelos outros nove rios combinados). Juntos, os 10 rios são responsáveis ​​por despejar até 2,75 milhões de toneladas de plástico nos oceanos do mundo a cada ano.


Presente em rios e oceanos do planeta, o plástico não biodegrada. Sob condições de intemperismo ele se fragmenta em pedaços cada vez menores, que nós chamamos de microplásticos. Termo bastante difundido dado às partículas plásticas com tamanho inferior a 5 mm, e polêmico, devido às consequências ambientais que provocam. Outras fontes microplásticos são os tecidos sintéticos que ao serem lavados liberam pequenas fibras na água e produtos que utilizam partículas em sua composição, como cremes dentais e esfoliantes para a pele. Além de se integrarem ao ambiente aquático, como por exemplo, na coluna d’água e nos sedimentos de fundo, são transportados por toda cadeia alimentar, chegando até nós, seres humanos, através do consumo de peixes e frutos do mar.


Para obtermos dados sobre a poluição por microplásticos no estuário de Santos e São Vicente, o Instituto EcoFaxina está realizando uma pesquisa inédita, em parceria com o Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares da USP - IPEN e com a Universidade Estadual Paulista - UNESP, que analisa amostras de sedimentos coletadas nos canais estuarinos. Dados preliminares obtidos em laboratório apontam altas concentrações de microplásticos, chegando a 80 mil partículas por grama de sedimento. Entre os microplásticos mais encontrados estão as fibras têxteis sintéticas, filmes e fragmentos que chegam a medir menos que 0,25 mm de comprimento.



O projeto está em andamento e contempla avaliar a presença e a abundância de microplásticos em sedimentos de fundo do sistema estuarino de Santos e São Vicente. A amostragem foi realizada em diversos pontos do estuário, desde o canal de São Vicente, largo da Pompeba, rio dos Bugres, rio Casqueiro, canal de Piaçaguera, ilha Barnabé e canal do Porto de Santos.


A sua divulgação em eventos científicos, no entanto, tem levado ao conhecimento de que a principal fonte de microplásticos que poluem corpos hídricos terrestres e os oceanos são áreas de preservação permanente ocupadas por submoradias, nem sempre visíveis e tratadas com negligência.


A primeira participação internacional do Instituto EcoFaxina sobre microplásticos ocorreu na 2ª Conferência sobre Lixo Marinho e Microplásticos, em Portugal, organizada pela Associação Portuguesa do Lixo Marinho - APLM, Centro de Ciências do Mar e Ambiente - MARE e da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa - FCT-UNL, demonstrou que o Brasil é um dos países que mais contribuem com a poluição por plásticos como resultado da falta de infraestrutura e investimentos socioambientais, sendo a pesquisa que encontrou a maior concentração de microplásticos em ambiente aquático.


Os resultados encontrados nos mostram que tal abundância de microplásticos coloca em risco o consumo por animais que compõem a fauna estuarina e por pessoas, principalmente aquelas que residem em favelas de palafitas e se alimentam frequentemente destes animais, especialmente peixes, caranguejos, siris e mariscos, provavelmente contaminados por microplásticos e poluentes orgânicos persistentes adsorvidos pelas partículas.

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